Mês: julho 2013

Dança da faca… invisível

Todo mundo já ouviu falar em air guitar, aquela brincadeira em que o sujeito simula estar esmerilhando uma guitarra imaginária. Tem até concurso para ver quem tira o melhor “solo” do instrumento fantasma…

Agora, o que você não deve jamais ter ouvido falar é da “air knife”. Acontece que o precursor dessa engenhosa variação foi o Ari – ou Ti, para quem prefere. Pois antes de conduzir uma bem-sucedida carreira no ramo imobiliário, o Ti mostrou habilidade no trato com facas… de mentira.

Melhor explicar esse negócio. A coisa toda ocorreu lá por 1994, 1995, época em que Porto Belo vivia seu apogeu de atividades culturais destinadas ao grande público. Época também do Palco das Artes, que traria à cidade a primeira leva de nomes famosos da música.

Mas, naquele verão, era o belo palco instalado em frente ao que hoje é a cantina do Betão, competente técnico do Tatuíra FC, que fazia a alegria da moçada.

Musicalmente também foi um período memorável: naqueles dias, o que muita gente ouvia era o Álbum Preto do Metallica, o Nevermind do Nirvana, e outras coisas do gênero. E havia o reggae também…

Ti: faca de mentirinha para assustar os adversários

Sendo assim, a rapaziada comparecia aos shows que ocorriam naquele palco quase diariamente e infernizada os músicos com pedidos de Enter Sandman, Orgasmatron etc. Quando esses acediam, era um deus-nos-acuda. Mas tudo dentro de relativa normalidade.

Menos quando apareciam os rapazes da Meia Praia.

Inimigos jurados da molecada daqui, a presença deles em Porto Belo (e vice-versa) era sinônimo de encrenca. E nós estávamos lá na frente do palco, animados, quando o Ti avistou um desses caras numa noite qualquer.

Sua reação foi imediata: se dirigiu até onde o cara estava, meteu a mão direita na cintura e puxou num raio alguma coisa que saiu brandindo diante das fuças atônitas do rapaz. E como ele estivesse acompanhado de mais um ou dois, o Ari estabeleceu um perímetro em volta de si girando o braço adiante como se fosse um perigoso espadachim.

Não demorou para a coisa virar um pandemônio, todo mundo saiu correndo, gritando: Faca! Faca! A área diante do palco virou logo um deserto e, sem entender nada, perguntei:  – Ô Ari, que é deu?

– Nada, cara! Só fingi que tava com uma faca pra dar um susto naqueles caras.

De fato, funcionou. Criatividade é isso…

O cara que se recusou a proteger o Papa

A essas alturas, o papa Francisco está circulando pelas ruas do Rio de Janeiro, a repetir a rotina de outros pontífices antes dele, que no Brasil também estiveram. Um dos quais, o popular João Paulo II, tinha por hábito beijar o solo do país em visita assim que descia do avião – não sei se compartilhado pelo atual ocupante do Trono de São Pedro.

Mas o que essa atual visita me faz lembrar mesmo é que, durante a passagem de João Paulo II por Florianópolis, em outubro de 1991, um velho conhecido nosso havia sido destacado para compor o contingente responsável por garantir a segurança papal durante a visita. Ele, porém, rejeitou a honra, preferindo correr para Porto Belo.

Candôco sempre fora fanático por aviões. Por isso, decidiu servir à Aeronáutica. E não se deteve diante da recusa do médico responsável pela seleção, que por fim o orientou a arranjar uma “chapa” de pulmão de outra pessoa para substituir a sua, que apresentava uma mancha que o desqualificava para a vida em caserna.

Pois bem, Candôco serviu durante um ano na Base Aérea de Florianópolis. E era de se esperar que a rígida rotina militar incutisse alguma disciplina no rapaz. Aconteceu justamente o contrário.

Quando foi designado a servir no cassino dos oficiais, Candôco se especializou em aplicar pequenos golpes: tomava cervejas à vontade e as debitava na conta dos tenentes aviadores que frequentavam o local. E tudo ia bem até que ele “engordou” a dívida de um cliente que sequer bebia. Quando o homem, desconfiado, o questionou a respeito, Candôco saiu-se bem:

– Foram os seus amigos que mandaram colocar na conta do senhor. Como eles são meus superiores, não pude questionar!

E foi com igual desfaçatez que o Candôco, que havia sido designado junto com todo o pessoal da base para ajudar a manter a segurança durante a visita do Papa, resolveu dar o cano. Pegou o primeiro ônibus que pôde e se mandou para Porto Belo, para tomar umas com os amigos, naquele final de semana em que o Estado inteiro se enlevava com a presença por aqui de João Paulo II.

Candôco, todos sabem, não é exatamente um homem de fé…

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