Aproveito que amanhã é dia de Finados, esta noite, portanto, de Todos os Santos, para desenterrar – perdoem o trocadilho – um texto que havia feito faz algum tempo pensando em aproveitá-lo na reedição do livro Contam os Antigos. A reedição ainda não saiu e me parece cada vez mais distante de sair, quebrando assim uma promessa que havia feito lá na banca examinadora do curso de jornalismo. Faz bem uns oito anos, escrevi uma série de textos com essa finalidade, mas não fui adiante e a coisa datou um pouco, não consigo um gancho que traga novo interesse ao trabalho e, quanto mais o tempo passa, mais difícil realizar essa sequência da obra.

Bem, o fato é que os textos estão aí. Então, por que não publicá-los neste blogue? O texto que segue foge um pouco à categoria dos demais, certamente não iria aproveitá-lo no livro, tem um caráter mais pessoal, de divagação, sem dúvida algo inacabado, serve talvez como curiosidade.

Para o bem ou para o mal, segue o texto. Na sequência, publicarei um outro material, este sim devidamente formatado para o livro, sobre o mesmo tema:

Procissão das Almas. Foi num almoço, num dia qualquer, que minha tia falou a respeito. Nem sei porquê. Uma romaria de gente seguindo pelo morro, noite escura, círios acesos nas mãos. Em volta, no limite entre a luz das velas e a escuridão da noite, as almas, caminhando no mesmo passo. Foi assim que imaginei. Procissão das Almas… Nesse ano, na proximidade da Páscoa, vi quando passaram carregando cruzes de madeira para queimar diante da Igreja Matriz. Gente que vinha de Zimbros, com velas e cruzes nas mãos, cantorias nos lábios.

Depois lembrei, quando garoto, a gente espiando, detrás da janela gradeada da sala, em nossa casa em Porto Belo, pintada de verde musgo (hoje, não é mais dessa cor), olhando a esquina das ruas de terra adiante, o bambuzal escuro (esse não existe mais), esperando a madrugada e temendo ver as almas que passeiam pelas encruzilhadas na noite de finados. O mesmo ponto de observação em que ficávamos, lutando contra o sono e na esperança de que a sorte trouxesse o boi de campo bem para a frente de nossa casa, nas noites da farra de boi.