Todo mundo já ouviu falar em air guitar, aquela brincadeira em que o sujeito simula estar esmerilhando uma guitarra imaginária. Tem até concurso para ver quem tira o melhor “solo” do instrumento fantasma…

Agora, o que você não deve jamais ter ouvido falar é da “air knife”. Acontece que o precursor dessa engenhosa variação foi o Ari – ou Ti, para quem prefere. Pois antes de conduzir uma bem-sucedida carreira no ramo imobiliário, o Ti mostrou habilidade no trato com facas… de mentira.

Melhor explicar esse negócio. A coisa toda ocorreu lá por 1994, 1995, época em que Porto Belo vivia seu apogeu de atividades culturais destinadas ao grande público. Época também do Palco das Artes, que traria à cidade a primeira leva de nomes famosos da música.

Mas, naquele verão, era o belo palco instalado em frente ao que hoje é a cantina do Betão, competente técnico do Tatuíra FC, que fazia a alegria da moçada.

Musicalmente também foi um período memorável: naqueles dias, o que muita gente ouvia era o Álbum Preto do Metallica, o Nevermind do Nirvana, e outras coisas do gênero. E havia o reggae também…

Ti: faca de mentirinha para assustar os adversários

Sendo assim, a rapaziada comparecia aos shows que ocorriam naquele palco quase diariamente e infernizada os músicos com pedidos de Enter Sandman, Orgasmatron etc. Quando esses acediam, era um deus-nos-acuda. Mas tudo dentro de relativa normalidade.

Menos quando apareciam os rapazes da Meia Praia.

Inimigos jurados da molecada daqui, a presença deles em Porto Belo (e vice-versa) era sinônimo de encrenca. E nós estávamos lá na frente do palco, animados, quando o Ti avistou um desses caras numa noite qualquer.

Sua reação foi imediata: se dirigiu até onde o cara estava, meteu a mão direita na cintura e puxou num raio alguma coisa que saiu brandindo diante das fuças atônitas do rapaz. E como ele estivesse acompanhado de mais um ou dois, o Ari estabeleceu um perímetro em volta de si girando o braço adiante como se fosse um perigoso espadachim.

Não demorou para a coisa virar um pandemônio, todo mundo saiu correndo, gritando: Faca! Faca! A área diante do palco virou logo um deserto e, sem entender nada, perguntei:  – Ô Ari, que é deu?

– Nada, cara! Só fingi que tava com uma faca pra dar um susto naqueles caras.

De fato, funcionou. Criatividade é isso…