Tem um filme de 1979 que virou “cult” chamado Rock’n’roll High School, no qual os Ramones aparecem tanto compondo a trilha sonora quanto atuando, como eles mesmo, no filme, que ao final mostra os alunos detonando, literalmente, a Vince Lombardi High School. Rebeldia absoluta.

Episódio de rebeldia ocorreu certa vez no Tiradentes. Curioso que foi num momento em que os alunos, pais e professores experimentaram um raro momento de exercício democrático. Foi quando escolhemos, pelo voto, o nosso diretor. E o nome que escolhemos foi o do professor Osvaldo Eduardo di Pietro, o Vadão.

Porém, as coisas não caminharam bem para ele na nova função. Logo, estávamos suspeitando de que havia algum conluio secreto para atrapalhar a vida do Vadão. Alguns de nós, então, resolvemos protestar. E o recurso que usamos foi a anarquia.

Não demorou para haver bombinhas estourando nas lixeiras do colégio. Numa tentativa mais grave de terrorismo, tentamos mandar pelos ares a privada do banheiro dos meninos.

Osvaldo Di Pietro, o Vadão: o terrorismo, como era de se esperar, não ajudou em nada (foto: Isadora Manerich)

O Vadão, obviamente, não ficou contente com essa bizarra manifestação de apoio. Tampouco isso ajudou na sua causa, antes pelo contrário. Fato foi que, ao final, o Vadão deixou precocemente o cargo.

Lamentamos porque o Vadão a gente conhecia, e respeitava, desde a época em que ele tinha barba. Sim, a barba era uma marca registrada, assim como o bigodão que ele ostenta até hoje. Lembro-me do susto quando o vimos pela primeira vez sem ela – parece que sacrificou a barba por uma aposta perdida.

O Vadão também estava lá num período mágico na infância da minha turma, quando reuniu todo mundo num time de futebol. Nos finais de tarde, a rapaziada se juntava no Tiradentes para aprender a jogar bola (não aprendi, infelizmente). A jornada rendeu uma inesquecível partida lá no Matadouro, em Itajaí, quando promovemos um gato: naquele jogo, o Ednei virou o Isaías.

[Bem depois disso o Vadão foi treinador do Cervejas, mas nem ele podia fazer aquele time, que tem compulsão por perder, ganhar um título… Também não o mandamos embora, foram as circunstâncias que afastaram a ambos.]

Mais tarde, quando decidimos fundar o Pirão d’água, recorremos ao Vadão para nos ajudar, pois ele era jornalista formado e podia ser responsável pelos desatinos que cometíamos nos primeiros meses do jornal. E ele, generosamente, aceitou. Mas aí havia eleições à frente, o Vadão estava no páreo, e tivemos que declinar da preciosa ajuda. Mas ele não deixou de colaborar com o jornal, assumindo a “editoria” de esportes durante quase todo o tempo em que o jornal existiu.

Depois o Vadão seguiu procurando colaborar com a causa pública, como vereador e também como secretário de Esportes. Deve ter visto quanto uma coisa e outra podem ser espinhosas. Largou disso, como também largou das aulas. Hoje, vive de alugar imóveis e de fazer a crônica da memória esportiva de Porto Belo. Sem abrir mão do seu papel de cidadão.