Uma boa conversa com o André em algum momento vai descambar em música. Boa-praça como poucos, o Coveiro tem me dado o privilégio de acompanhá-lo em suas corridas entre Porto Belo e Bombinhas. E, por sorte, me tem sobrado fôlego para conversarmos em meio ao trote…

Falar de música com o André também desemboca na Uniclãs, banda que volta e meia ensaia um retorno mas esbarra quase sempre na instabilidade do seu frontman, o Nando. Acho que falo com acerto quando digo que a Uniclãs foi o mais bem-sucedido projeto musical de Porto Belo, com CD gravado, shows importantes e fãs fiéis até hoje.

Mais interessante foi saber pelo André que a Nosferatu deu uma pequena parcela de contribuição na caminhada da Uniclãs. Nosferatu foi um projeto de curta duração, creio que pouco mais de um ano, que nasceu lá pelo final de 1994. Não tínhamos composições próprias, mas fizemos uns bons shows no Palco das Artes e alguns outros divertidos no Job’s – o Job sempre tinha sua casa, lá no Vila Nova, aberta para nossas apresentações – sem contar um que terminou em pancadaria lá em Itajaí…

Nosferatu em ação no Palco das Artes de 1995 (foto: Luiz Dadam)

Realmente, nesses shows em Porto Belo a gente via o pessoal que depois faria a Uniclãs e também formaria a atual cena musical da cidade: lembro do Nando subindo no palco na primeira noite que tocamos no Palco das Artes, para terror do seu futuro empresário Juracy, do Carlinhos atento ao meu vacilante contrabaixo no Job’s, sem falar do Alex, na ocasião a guitarra canhota da própria Nosferatu (que se completava com o André Tulipano e o Henry).

CENA QUENTE

Nossa banda talvez ficasse mesmo num meio-caminho entre as primeiras experiências musicais na cidade de que eu me lembre e a Uniclãs. De primeiras experiências me refiro, por exemplo, à Distrito, banda do pessoal de Bombas, Márcio, Luisão e Ita, que tocava no Casarão em frente ao Trapiche dos Pescadores (foi lá que eu os vi, pelo menos), muito antes que houvesse aquela sucessão de bares no centro, primeiro Cais entre Nós, depois Bodega do Porto, Bucaneiro, Caída da Lua e, enfim, Canoa Quebrada, os quais fizeram o nome de gente como Serginho Almeida (outra importante referência musical da cidade), Seco, a Estatura Mediana de Itajaí e outros.

Numa garagem quase em frente ao Caída da Lua, aliás, saiu uma experiência musical que, ao menos para mim, serviu de referência: ali ensaiavam o Vilsinho, Juliano e Testa, com o propósito de formarem uma banda com influências no punk rock. Soube que tocaram uma vez no Submarino Amarelo, e só.

Disso tudo surgiu a Nosferatu, depois que o André saiu brigado de uma banda que havia em Itapema decidido a formar a sua própria banda de rock. O período era marcado ainda pelo sucesso do Álbum Preto do Metallica e pelos ecos do grunge encabeçado pelo Nirvana e seu Nevermind – ambos os álbuns lançados em 1991. Ensaiamos no mais absoluto improviso na casa do Alex (que antes tocava com o Bicudo, Christian e Jefinho), até encontrarmos o Henry, baterista de Itajaí, que nos abrigou em sua bela casa no bairro São Vicente.

Nosso primeiro show ocorreu dia 14 de janeiro de 1995, no ginásio Gabriel Colares, em Itajaí. Tocávamos somente covers, não entramos no estágio das composições próprias. No verão seguinte, às voltas cada um com suas próprias preocupações, deixamos o projeto esfriar. O André depois formaria a Steel Warrior, em Itajaí, banda que obteve contrato com gravadora e alguns shows na Europa. O Alex seguiu tocando com o pessoal daqui e se juntou à Al-Jihad do Nando e do Maninho, o que viria depois a ser a Uniclãs.

Guardadas as proporções, sinto um pesar semelhante ao do pessoal da Uniclãs pelo fim prematuro da Nosferatu. Daqueles tempos, herdei uma obsessão pelo contrabaixo que ainda não se reverteu em domínio desse instrumento. Ficou também o gosto pelas mesmas músicas. Apesar de tudo, acho que posso compartilhar com o pessoal da Uniclãs e de outras bandas que pipocaram (pipocam) na região, o sentimento de que valeu a pena. Enquanto durou, foi excelente.