Após lançar o primeiro álbum, Hoje é o melhor dia de todos até hojeo músico tijuquense Guilherme Franzói quer consolidar seu público

O que determina o sucesso de um músico? Depende do parâmetro que você usar. Se o seu grau de exigência for elevado, um canal no YouTube com milhares de seguidores e músicas bombando no Spotify seria uma medida razoável. Shows pelo país com casa lotada e cachês generosos, melhor ainda. Todo artista concorda com isso. Por que com Guilherme Franzói seria diferente?

De fato, esse é um horizonte que ele almeja alcançar. De momento, porém, algumas coisas nada desprezíveis o tijuquense de 29 anos já conquistou: vive e paga as contas com o que ganha de seu conhecimento musical. Além disso, ano passado ele debutou na cena catarinense com o primeiro CD, Hoje é o melhor dia de todos até hoje. “É o sonho de todo artista”, reconhece.

Guilherme Franzói: gosto pela música veio de berço (fotos: Isadora Manerich)

A história de Guilherme com a música é daquelas que começam antes mesmo da pessoa estrear no mundo. Neto de italianos, teve nas duas pontas da árvore genealógica ascendentes afinados com a música: um dos avós tocava pandeiro, gaita de boca e cantava; o outro, acompanhava o coral da igreja com um harmônio. Aliás, foi cantando hinos com outras pequenas almas ao pé do altar que Franzói iniciou sua jornada, aos dez anos de idade.

Depois veio a banda marcial do Colégio Cenecista, onde aprendeu a tocar instrumentos de feitio variado. Aos quatorze começou a destrinchar o violão, sua principal ferramenta de trabalho, após uma tentativa frustrada aos dez. Corria o ano de 2003 e o pessoal andava ligado no rock nacional. Guilherme e uns amigos montaram a C4, banda de garagem influenciada por Raimundos, CPM22 e outros sons do gênero.

“Ninguém tocava nada”, admite o músico. Mesmo assim, a brincadeira durou quatro anos. Em seguida veio a Mad Marie, uma experiência mais profissional, com shows no circuito de bares e algumas composições. Novamente, o número quatro foi de azar e o grupo se desfez após cerca de 48 meses. Guilherme decidiu que, dali por diante, seguiria sozinho.

COMPOSITOR RELUTANTE

Em paralelo, o músico, que havia cursado um ano de Ciências da Computação (ele foi proprietário de uma loja de informática por curto tempo), iniciou uma licenciatura em Música na Univali, em Itajaí. Durante o curso ingressou em um projeto de extensão dedicado a reviver a tradição do boi de mamão, o que lhe rendeu convite, em 2008, para lecionar em uma escola particular de Tijucas. Desde então, Guilherme é professor de educação musical: leciona no Colégio Planeta, no Colégio de Aplicação da Univali (CAU) e no projeto social Coral Anjos Luz Portobello, mantido pela cerâmica Portobello, todas instituições tijuquenses. “É muito gratificante”, diz o músico, que tem entre a garotada uma base sólida de fãs.

Depois de um tempo se apresentando na noite em regime de voz e violão, Guilherme sentiu falta de acompanhamento. Chamou alguns colegas e passou a atuar em trio, sem que houvesse formação fixa. Outra mudança fundamental nesse período foi a inclusão de composições próprias no repertório. Para isso, foi necessário superar um bloqueio pessoal.

Já de outros carnavais que Franzói escrevia suas letras e testava acordes. Só não achava que ficassem bons o suficiente. Até que um amigo guitarrista lhe deu um “chacoalhão”, incentivando-o a colocar as ideias na praça. A ocasião era propícia: em 2016 a produção autoral na região estava no auge, impulsionada por um circuito de saraus e pequenos festivais. Guilherme resolveu arriscar. Apresentou seu repertório a um público majoritariamente formado por familiares e amigos no Sarau dos Incoerentes, em Porto Belo. O caminho para o primeiro CD estava pavimentado.

ÁLBUM DE ESTREIA

Clipe de Tempo Alado: caminho para o lançamento do CD

Em 2017, Guilherme Franzói lançou dois singles, Enquanto eu canto e Tempo alado, o último deles acompanhado de um videoclipe, dirigido pela fotógrafa Isadora Manerich. No final desse ano, lançou uma campanha de financiamento coletivo para bancar o primeiro disco.

“Acho que fui um pouco afobado. Hoje, eu esperaria um pouco mais, até consolidar um público”, reflete o músico, para em seguida emendar: “Não me arrependo”.

Gravado entre março e maio de 2018 — com produção de Alexandre Siqueira, participação de músicos como o baixista Cezinha Silva e o baterista Luciano Dunga, além de recheado de insights da filha do cantor, Ana Lara (de oito anos de idade), autora, entre outras, do bordão que dá nome ao CD e das artes do disco — Hoje é o melhor dia de todos até hoje ganhou evento de lançamento numa sexta-feira, 13 de julho, no anfiteatro Lêda Regina, em Tijucas. Na plateia, um público cativo de Guilherme: amigos e familiares — mas não necessariamente o público da sua música.

Guilherme grava canal no YouTube: desejo de alcançar o cenário nacional. Abaixo: capa do CD de estreia, com imagem retirada de uma arte da filha Ana Lara, de 8 anos de idade

Repleto de harmonias complexas e versos difíceis de cantar, o disco foge um pouco ao padrão da MPB de consumo de massa. Embora o músico tivesse idealizado um trabalho mais cru (tendo, inclusive, gravado com equipamentos clássicos, como uma bateria Ludwig dos anos 1960 e amplificadores valvulados), o uso de samplers e sintetizadores em algumas faixas deu um toque eletrônico à produção. Resultado: a recepção na estreia não foi como Guilherme esperava. Ainda assim, a canção Anoiteço, escrita em parceria com Thiago Furtado, entrou na programação da rádio Univali FM, ficando entre as mais tocadas por várias semanas.

“Preciso atingir o cardume certo”, pondera o tijuquense, que este ano ensaia jogar a rede um pouco mais longe, visando o concorrido cenário nacional. Estão nos planos a gravação de um DVD ao vivo, a participação em festivais e viagens de divulgação. Ele também pretende intensificar a presença na web, onde as coisas acontecem.

Por ora, a preocupação está em aproveitar a temporada e tocar ao máximo — afinal, é necessário cumprir os compromissos. No futuro, Guilherme deseja abandonar os toques em barzinho. Quando isso acontecer, será um sinal de que a carreira de músico autoral decolou — mas não um indicativo de que o sucesso enfim chegou. A seu modo, Guilherme Franzói já é vitorioso: “Vivo bem fazendo a minha arte”, assegura.