Como fazer um jornal chapa-branca – I parte

Li em algum lugar que Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler – de sinistra memória – dizia algo parecido com isto: “Uma mentira dita mil vezes se torna uma verdade”.

Não sei se acusaram a gente de ser “um jornal do PMDB” mil vezes, mas falaram o suficiente para que tivesse quem acreditasse e a gente precisasse trabalhar muito a cada edição para desfazer a falsa impressão. Claro que, em algumas ocasiões, contribuímos para que a “maldição” persistisse…

Acho que quem teve a ideia de fundar o jornal foi o André. Pelo menos, foi de sua boca que eu ouvi pela primeira vez sobre isso. Conheci o André depois que saí do Maré Mansa, um informativo bancado pelo então prefeito de Porto Belo, Sérgio Biehler. Saímos eu e o Roberto de Souza, o Piva, do Maré Mansa (saíram conosco, na verdade) e aceitamos o convite para trabalhar com o principal inimigo político do nosso antigo patrão, no caso, o Etevaldo Santana, um jornalista que tinha dois jornais, um em Bombinhas e outro em Porto Belo, e aprontava horrores – contra seu desafeto e contra a língua portuguesa também.

Lá no Maré Mansa surgiu, praticamente, um time de futebol que deu o que falar, depois batizado de Cervejas. Mas essa é outra conversa…

O André trabalhava com o Etevaldo, no escritório do piso superior da rodoviária de Porto Belo, e também fazia frila para O Atlântico, então comandado por um sujeito chamado João de Deus. Mais tarde, eu e o André decidimos trabalhar em sociedade, diagramando jornais da região. E, mais tarde ainda, incluímos o Luiz Dadam (Candôco) nessa sociedade, abrindo juntos uma empresa para dar aulas de informática. O plano parecia excelente, não houvesse aparecido uma concorrente melhor habilitada que pôs tudo a perder…

André morava em Itajaí, mas vivia mais tempo em Porto Belo, visto que tinha noivado aqui e tinha seus frilas na cidade. Guitarrista de uma banda de Itapema, depois ele teve outra ideia interessante: a de montarmos uma banda de rock. Disso nasceu a Nosferatu, mas isso também é papo para outra oportunidade…

Devia ser abril ou maio de 1996, ano de eleições municipais. André achou a ocasião perfeita. Nenhum de nós era jornalista, mas tínhamos trabalhado com jornais desde Navegantes até Governador Celso Ramos, o suficiente para acreditar saber como fazer. Mais importante: achávamos poder fazer melhor. Na verdade, queríamos entrar com tudo na campanha, promovendo entrevistas, fazendo pesquisas de opinião, enquetes com temas importantes, que pudessem nortear a corrida eleitoral. No papel, tudo certo…

Ideia aceita, havia duas decisões importantes a tomar. A primeira delas, lógico, era dar nome ao jornal. Promovemos um “brainstorm”, André, eu e o Luiz. Sentados em volta da escrivaninha do escritório que havia sido do Etevaldo, lá no piso superior da rodoviária, tratamos de lançar nomes. Mil “gazetas” disso, “folhas” daquilo e mais um monte de bobagens que usávamos para aliviar a seriedade da coisa – escolher nome de jornal não é muito fácil…

Um dos nomes que foi dito de brincadeira foi “Pirão d’água”. Quem disse? Não sei, talvez o Candôco saiba, mas desconfio que tenha sido o André. Mesmo que fosse para ser piada, o nome começou a fazer sentido quando o associamos a essa coisa de valorização da tradição local, algo que queríamos incluir na linha editorial. Parecia, portanto, senão uma boa escolha, ao menos a melhor que tínhamos no momento.

A segunda providência era conseguir um jornalista responsável. Ou seja, alguém com diploma, amigo nosso e que topasse fazer isso na camaradagem. O único com esse perfil que conhecíamos era o Vadão. Problema: ele era então secretário de Esportes da prefeitura de Porto Belo, portanto vinculado à campanha eleitoral. Ainda assim, parecia a melhor (senão, a única) opção, pois era alguém conhecido e confiável, então valia a pena tentar. Vadão topou na hora, não impôs nenhuma condição e ainda aceitou ajudar escrevendo sobre esportes, assunto que ele realmente domina e aprecia. Assim, era pôr mãos à obra e lançar na rua a novidade.

Nem imaginávamos a encrenca em que estávamos nos metendo…

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  1. Naná

    Quantas histórias ainda tens pra contar hein?! Já descobri a origem do Cervejas!!! rsrs, bj

  2. Elisabete da Silva Mafra

    Oi, querido.

    Muito boa essa história, embora eu já ha conhecesse, não conhecia em detalhes. E é sempre muito bom ler seus textos.
    Eu e a Cissa estamos aguardando mais histórias, bjus …

  3. Osvaldo Eduardo Di Pietro Vadão

    E toparia tudo de novo, pois vc, Dil e o Luisinho, esse mesmo, o Candôco, são pessoas a quem admiro muito, pela maneira de ser, pela sinceridade , pelo talento e pelo brilho nos olhos que deixavam transparecer pela iniciativa de um jornal em Porto Belo.
    Tava lembrando que, além de Secretário de Esportes, eu fui candidato naquele ano e…fui eleito, mas faz de conta que não falei.
    Que tal lançar um PIRÃO DÁGUA on-line? quem me vê falando assim, pensa que entendo desse negócio, mas é uma idéia.

    E, por favor, ajudem na Campanha ” Como postar comentários no blog do Vado”

    • Ô Vadão, só posso agradecer, até em nome do Candôco, a força, não só naquela ocasião, mas ao longo da existência do Pirão. Quanto ao Pirão on-line, acho que, por enquanto, vai ser só esse “Pirão revival on-line”. Mas quem sabe a turma não “cai dentro” e a gente pensa nisso a sério?

      • Ah, e pessoal: quem puder ajudar na campanha aí do Vadão, será uma ajuda e tanto. Inclusive, inclui o blogue do Vadão aí na minha lista de links. Valeu!

  4. Zenelise Drodowski

    Dil, que histórias incríveis…é muito bom ler estes post, ainda mais para uma pessoa como eu que “caí” de paraquedas nesta cidade maravilhosa. Ah, acabamos descobrimos como nasceu o grandioso time dos Cervejas. kkkk

    • Oi Zene, deixa que depois eu conto os detalhes desse nascimento que mudou os rumos do esporte portobelense (não, na verdade, não mudou nenhum rumo, que eu saiba…).

  5. Osvaldo Eduardo Di Pietro Vadão

    Zene, não te conheço, mas se quiser saber algo mais sobre o Cervejas, leia um de meus artigos no blog…com informações do Dil.

  6. Zene

    Oi Vado, vou ler certamente….já estou acompanhando o teu blog.Li alguns posts e achei bem bacana!

  7. telmalara

    Olá Dil,
    Parabéns pela iniciativa!! Brilhante ideia a sua, e as histórias contadas com riqueza de detalhes que nós meros leitores do Pirão não conhecíamos. Estou adorando. Vou continuar espiando..
    Um abraço!
    Telminha

    • Oi Telma, obrigado por ter aparecido e fique à vontade para aparecer sempre. Também estou adorando encontrar o pessoal por aqui. Abração!

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